Carlos Lopes Franco – Lisboa.
Autor Olhares desde 2007, nasceu em Barras – Mafra em 1953. Sou licenciado em Engenharia Mecânica, ramo de Termodinâmica e na maior parte da minha vida, fui investigador científico na área da energia. Neste momento estou aposentado, e com mais tempo para a fotografia. Sou um fotógrafo amador, dedico a maior parte do meu tempo a esta área.
A paixão pela fotografia surgiu na fase adulta, quando já era Pai, em 1981, por ocasião de um concurso fotográfico, uma brincadeira, entre colegas. Mas, na realidade, e por ter um trabalho na área da investigação que me deixava pouco tempo livre, só muito mais tarde, entre 2006 e 2007, com o aparecimento da fotografia digital, comecei a interessar-me por essa área, que se tornou parte integrante da minha vida.
Foi em 1980 que comprei a minha primeira máquina fotográfica, uma Canon AE-1 com uma lente 50 mm. Nessa altura viajava bastante em trabalho, e apesar de sair muito para o estrangeiro, os dias eram muito preenchidos com congressos, reuniões, palestras, etc, o que não me deixava muito tempo livre para fotografar.
Considero um fotógrafo de sentimento, do impulso e do momento, considero que a fotografia que faço pretende transmitir isso mesmo, dando uma visão e interpretação da vida social urbana ou rural no seu aspecto real.
De facto, gosto e sinto um enorme prazer em fotografar pessoas e criar uma certa aproximação com elas. Gosto muito de fazer retrato e, sempre que possível, poder mais tarde voltar aos lugares onde fiz esses retratos e mostrar aos protagonistas o meu trabalho, a forma como aparecem nas fotografias, como se sentiram e o que sentem face ao que vêem nas fotografias editadas que lhes dou e/ou mostro, e como reagem à imagem que obtive e eternizei.
Não sou apenas um fotógrafo de retrato, mas sim, é uma vertente que me fascina. No entanto, gosto de fazer retrato num contexto, com tudo o que rodeia a pessoa, e não só fotografar a cara do protagonista, como se fossem aquelas fotografias “tipo passe”.
De facto, o meu foco principal na fotografia são as pessoas. Gosto de abordá-las e criar algum tipo de ligação com elas, ainda que momentâneo, o que me leva a conhecer um pouco das suas vidas, e a partir daí a fotografia faz ainda mais sentido. Acredito que qualquer tipo de fotografia não é apenas fotografar, antes pelo contrário, deve sempre contar algum tipo de história, o que dificilmente acontecerá com um mero disparo.
No meu livro “olhar na alma| into the soul”, um amigo, o fotógrafo/fotojornalista Luíz Carvalho escreveu desta forma o prefácio, para me descrever:
“O fotógrafo tem uma obsessão pelas pessoas e não é por acaso que ele gosta de voltar mais tarde ao local onde a fotografia perfeita foi tirada. Ele agradece e retribui as pessoas retratadas, oferecendo-lhes impressões em papel pelo presente de se deixarem expor em movimentos perpétuos “.
Sempre gostei mais do PB do que a cor, porque é na fotografia a preto e branco que as expressões das pessoas são mais genuínas, mais autênticas, sendo mais notável nos retratos. Na maioria das fotografias de rua, acontece o mesmo, o preto e branco realça aquilo que se vê, que se observa, que se transmite, que acontece no dia-a-dia.
Existem muitas frases de fotógrafos clássicos que falam sobre a preferência do PB sob a cor, e há uma que eu gosto de citar, porque faz muito sentido, e é na realidade aquilo que eu sinto. É de um fotojornalista, Ted Grant, que diz: “Quando você fotografa pessoas a cores, você fotografa as suas roupas. Mas quando você fotografa pessoas a preto e branco, você fotografa as suas almas”.
Todavia, não considero a fotografia a cores como “um patinho feio”, pois existem excepções. Por exemplo, fiz uma viagem a Marrocos, e editei as fotos que fiz, e a maioria das fotografias são melhores a cores.
Tenho 4 livros editados, dos quais um sou co-autor.
O primeiro foi lançado em 2013, e tem o título de “nós, os outros”. É um livro que contém alguns dos contrastes que nos cercam, que fazem parte do nosso quotidiano e que podem ser observados, analisados e gravados a partir de uma perspectiva diferente e pessoal, mantendo a essência e a realidade intrínsecas. Várias fotografias deste livro mostram a vida diária de pessoas, culturas, património, vida, hábitos e costumes, crenças, atmosferas urbanas ou rurais, destacando a dimensão humana.
O segundo livro “5 dias em Paris”, é o resultado de uma viagem descontraída, a jornada por lugares emblemáticos – Montmartre, Ópera, Trocadero, Notre-Dame, Hotel de Ville, Champs Élysées, Père Lachaise, entre outros. O desejo de publicar o livro surgiu do gosto pelas fotografias obtidas, do prazer ao perceber nas fotografias a sensibilidade humana e o impacto visual.
O terceiro livro, “olhar na alma | into the soul”, é uma jornada pela cultura do interior do país, os rostos antigos durante dias intermináveis. Este trabalho decorre da imensa alegria que tenho em fotografar pessoas, conversar com elas e conhecer as culturas e tradições dos vários lugares de Portugal.
É uma obra que retrata a natureza rural de Portugal, o povo da terra, o olhar cúmplice que crio com quem cruzo o caminho. É a imagem da cultura do interior, dos hábitos, crenças e fé, do que ainda existe, mas muitas vezes nem nos lembramos. De um Portugal longe da agitação da cidade e dos tempos modernos.
O quarto e último livro, foi em co-autoria com um amigo fotógrafo, Luís Câmara, com quem fiz uma viagem a Cuba, coincidentemente com a morte de Fidel Castro. Este acontecimento, obviamente não foi o motivo da viagem, que já estava marcada, mas serviu também de inspiração para o título do livro: “Cuba, ano zero?”. Este livro retrata o retomar da rotina diária, nas várias cidades, de um povo que tinha, dias antes, perdido o seu comandante, e que começava um novo ciclo com muitas incertezas, mas com a alegria que tão bem caracteriza as gentes cubanas. Nas fotografias que tirámos, está bem espelhado a alegria e a simpatia deste povo.
Em breve, será publicado mais um livro, também em co-autoria com o meu amigo Luís Câmara, sobre o Irão, com o título “Irão, as Faces de um País Mal-Amado”, que mostra um pouco da vida das pessoas nas principais cidades do Irão.
Apesar de já estar aposentado, gosto de assumir que o meu trabalho hoje em dia, é precisamente a fotografia, na qual consigo tirar o prazer de fotografar, na maioria, pessoas. Para mim a fotografia representa o resultado de algo que, em determinado momento, me chamou a atenção, seja pelo aspecto visual ou pelo que estava a acontecer. A fotografia é, também, o gostar de abordar as pessoas, e poder contar alguma história através da imagem que capto em cada momento.
As minhas inspirações resultam da observação das várias realidades que existem, por vezes tristes, por vezes felizes. Existem também situações que me enriquecem como ser humano, através das histórias de vida que conheço quando me aproximo e fotografo pessoas, porque gosto muito de conversar com elas. Conheço as várias culturas e hábitos das pessoas das terras, que podem viver felizes com tão pouco, e isso faz-me apreciar as coisas que realmente importam.
P.S – Quero agradecer o convite para esta entrevista, que me trouxe recordações muito agradáveis, incluindo o início das minhas publicações de fotografias no Olhares, o primeiro site onde comecei a publicar o meu trabalho.