As imagens mais fortes que nos ocorrem quando ouvimos falar da China são de dois tipos: o exotismo da cultura milenar e os “excessos” da Revolução Cultural dos anos sessenta do século XX. É urgente dar a ver uma China actual cuja apreensão julgo estar bastante atrasada no nosso país e, prostate em geral, no Ocidente.Para isso há evidentemente que mostrar o desenvolvimento arquitectónico das cidades mas também aspectos banais do quotidiano, quantas vezes mais reveladores do que as grandes realizações. Há novas realidades como o “empreendedorismo” de rua e os seus falhados, o acesso ao lazer, a preocupação com o vestuário e em geral as atitudes de novo tipo que a abertura do enorme país ao exterior vêm possibilitando e incentivando.
As bicicletas são, aos milhões, um símbolo da vida frugal e laboriosa dos chineses embora se possam ver crescentemente como objectos de lazer.
Também já se vêm muitos chineses de máquina fotográfica em punho num claro sinal de que começam a poder disfrutar, e registar, momentos de ócio.
Bicicletas e câmaras fotográficas são sinais da coexistência das tradições e das transformações ao nível das vidas comuns.
A realidade física da China ultrapassa as expectativas e mesmo quando se parte com alguma bagagem de leituras sobre o país, a magnitude das transformações em curso sente-se “na pele”.
Alguém disse que os mil e trezentos milhões de chineses são, neste momento, o mais importante recurso natural do planeta e que o século XXI será, em grande medida, o resultado da forma como for feita a utilização de tal recurso.
Eu prefiro dizer que o futuro da sociedade humana será decisivamente influenciado por aquilo em que se tornarem os incontáveis chineses e pelo caminho que tomar a imensa China.
Ao captarmos as fotografias temos a oportunidade de revelar, e sublinhar, a individualidade e humanidade de cada um dos mil e trezentos milhões de chineses. Depois de enquadrados e registados deixam de ser apenas uma pequena parte de um grande número anónimo. Esta é mais uma das magias da fotografia.
Visitei a China em Abril de 2006. Pequim, Xian, Xangai, Guilin, Guangzou, Hong-Kong e Macau deixaram de ser apenas nomes e ganharam rostos.
Depois de ver a China é impossível voltar a ver a Europa como os mesmos olhos.
Fernando Penim Redondo
Biografia do autor
Fernando Penim Redondo é um autodidata. Aos 13 anos descobriu a fotografia por ter passado o Verão como ajudante numa loja da especialidade, na Baixa de Lisboa. No fim dos anos 60, durante a guerra em África, comprou a sua primeira máquina “a sério” e começou também a usar, em casa, um pequeno laboratório fotográfico.Realizou exposições individuais em:
- GUMArt Café, Parque das Nações, Lisboa
- Biblioteca Municipal António Botto, Abrantes
- Galeria de Exposições Mouzinho de Albuquerque, Batalha
- Biblioteca Municipal de Cascais, S. Domingos de Rana
- P. Municipal Carlos Manafaia, Sines
- Galeria de Exposições Augusto Bertholo, Alhandra
- Galeria Municipal, Torres Vedras
- Biblioteca Municipal, Moita
- Casa da Cultura, Beja
Publicou reportagens fotográficas na imprensa e tem trabalhos no livro “Camera Craft – Black & White” da editora AVA Publishing SA, editado em 2005.
Fernando Penim Redondo é Membro do Olhares. Veja a sua galeria
Fonte: CPF.pt