
A administração do site Olhares escolheu, para a Foto do Mês de Dezembro de 2010, a fotografia de Hugo Joel, intitulada “A Sadhu’s Life 17”.
Eis um texto e uma autobiografia do autor:
“Obrigado á equipa do olhares e a todos os que têm passado pela minha galeria. O vosso apoio tem sido muito importante para manter o sonho de fotografar e escrever documentários. A escolha foi bastante oportuna, pois com o início do ano, gostava muito que toda a paz e pureza da foto, fizesse parte do mundo em 2011.
Um bom ano para todos!
Sobre a viagem em que a fotografia foi feita
Tinha 16 anos quando vi as fotografias de Sebastião Salgado. Lembro-me de ter ficado a viajar através das suas imagens e pensar que um dia queria estar no seu papel, fazer algo de semelhante pelo mundo e pelos seus povos. Tal pensamento não passou de um sonho, até ao dia 6 de Maio de 2010, momento que foi anunciado por um nervoso miudinho sentido na barriga, sozinho num avião a caminho da Índia.
Aterrei primeiro em Mumbai, passando por Varanasi onde mergulhei por motivos religiosos (ou talvez fotográficos) no rio mais poluído do mundo. A minha viagem na Índia viria a terminar em Calcutá, não sem antes ter escapado por minutos a um atentado bombista nas linhas ferroviárias. Rejuvenescido, segui até Ho Chi Minh City onde acabei por permanecer dois meses e meio.
Parti com a vontade de fazer uma viagem ao intimo de tudo o que estava para acontecer. Apesar de tantos desejos e sonhos, a verdade é que levei comigo uma enorme ingenuidade para enfrentar problemas para os quais não estava minimamente preparado.
Desta viagem Nasceram dois documentários.
Um sobre a vida de Sadhu na Índia, onde vivi com eles (Sadhus) durante 2 semanas e meia e em troca por me terem deixado entrar na sua privacidade e me terem proporcionado uma viagem à religião que amam, decidi mostrar-lhes algo que me é especial, a fotografia. Apresentei-lhes o processo polaroid, e jamais esquecerei o ar de espanto deles, como se de magia se tratasse.
Outro documentário é sobre os efeitos nefastos do Agente Laranja nas gentes do Vietname que ainda hoje permanecem após o fim da guerra, que podem ler na e-magazine New Optimism (pg. 103):
http://www.newoptimismmag.com/n3/newoptimism.html
Enquanto fotografo tenho um particular interesse pela realização de fotografia documental, dedicada à área de direitos humanos, situações políticas e sociais, e um fascínio, talvez mesmo uma obsessão, pela busca do que resta da pureza humana.
Para mim o ponto essencial para eu realizar um retrato, é o nível de intimidade que tenho com o sujeito e a capacidade em entender a realidade e o contexto sócio-cultural em que este é realizado.
Tal como Sebastião Salgado disse: “não é o fotografo que faz a fotografia, mas sim a pessoa que é fotografada”.
Para mim este é o verdadeiro propósito da fotografia de fotojornalismo ou de viagem. É fácil chegar a locais de pobreza extrema e tirar partido de pessoas desprotegidas e menos afortunadas. Por isso, o desafio a que me propôs foi procurar o lado humano destas pessoas e fotografa-las com a dignidade que estas merecem.
Biografia
Descobrir a fotografia foi um acidente feliz. Tinha sete anos e cobiçava uma montra recheada de brinquedos. Queria possuí-los a todos, um por um. Nesse dia surgiu-me a ideia de os fotografar, porque assim o meu desejo seria satisfeito. Foi então que pedi ao meu pai para que me ensinar a tirar uma fotografia.
Tudo começou dessa forma: a fotografia passou a ser um modo de fixar os pequenos prazeres, os pequenos segredos, de fazer magia… E esse desejo, esse enigma extraordinário, nunca mais foi embora.
Fui um fotógrafo feliz e desajeitado até ao ano de 2002, quando decidi aprofundar o meu conhecimento sobre a matéria. E em 2007 a fotografia levou-me até Londres para estudar.”
Veja a Foto do Mês e consulte a galeria do autor Hugo Joel no Olhares.
Para mais informações, consulte o site de Hugo Joel ou a sua página de Facebook.