Bruno Simões Castanheira volta a conquistar o prémio de fotojornalismo depois de há dois anos ter sido galardoado com um trabalho sobre a crise na Grécia
PRÉMIO ESTAÇÃO IMAGEM 2015 VIANA DO CASTELO A TROIKA FOI EMBORA, MAS A AUSTERIDADE FICOU BRUNO SIMÕES CASTANHEIRA
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Uma impressiva reportagem sobre os efeitos da crise e das políticas de austeridade na sociedade portuguesa ditou o vencedor do PRÉMIO ESTAÇÃO IMAGEM 2015, cuja lista de premiados foi esta manhã anunciada em Viana do Castelo. O grande vencedor é o fotojornalista freelancer Bruno Simões Castanheira, que já há dois anos tinha igualmente arrebatado o prémio maior deste concurso com idêntico trabalho sobre a Grécia.
Nesta sexta edição do concurso, o júri internacional destacou a qualidade dos trabalhos apresentados e o talento e a dedicação demostrados pelo grupo de fotojornalistas candidatos. “Um conjunto de imagens que são ao mesmo tempo belas e retratam dificuldades. Deliciam os sentidos e a imaginação e permitem também perceber a complexidade de importantes acontecimentos sociais”. O júri, presidido por Maria Mann, directora de relações internacionais da agência EPA, integrava ainda o grego Yannis Behrakis, fotojornalista da Reuters, com um currículo de cobertura de conflitos em todo o mundo; Ruth Eichhorn, directora de fotografia das revistas GEO; o argentino Horacio Villalobos, que trabalhou para as agências UPI e AP e para revistas como a Time e Newsweek; e Elena Boille, subdirectora e editora gráfica da revista italiana Internazionale.
Candidataram-se 354 reportagens, tendo sido atribuídos também prémios em sete diferentes categorias e ainda um prémio especial Noroeste Peninsular que nesta edição tinha como tema a Construção Naval. Coube a António Pedro Santos, fotojornalista do jornal i, pela reportagem “Batalha Naval” sobre a produção dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
PRÉMIO NOROESTE PENINSULAR - CONSTRUÇÃO NAVAL BATALHA NAVAL ANTÓNIO PEDRO SANTOS
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Na categoria Notícias, venceu o trabalho “O Padre”, uma reportagem de André Gouveia (Global Imagens) sobre o conflito entre católicos relacionado com a substituição do pároco de Canelas, em Vila Nova de Gaia.
NOTÍCIAS 1º PRÉMIO O PADRE ANDRÉ GOUVEIA
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Rui Duarte Silva (Expresso) venceu na categoria Assuntos Contemporâneos, com o trabalho “Galgos, corridas e perseguições”, tendo o júri atribuído ainda um segundo prémio a João Miguel Gomes da Silva (Público), pela reportagem “Paralelos”.
ASSUNTOS CONTEMPORÂNEOS 1º PRÉMIO GALGOS, CORRIDAS E PERSEGUIÇÕES RUI DUARTE SILVA
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ASSUNTOS CONTEMPORÂNEOS 2º PRÉMIO PARALELOS JOÃO MIGUEL GOMES DA SILVA _
O fotojornalista do Expresso foi também vencedor na categoria Vida Quotidiana, com um trabalho sobre a cidade do Porto a que deu o título de “Sozinhos na cidade”. O segundo prémio desta mesma categoria foi para o freelancer Rui M. Oliveira pela reportagem “Luta contra a fome” relacionada com a ajuda alimentar.
VIDA QUOTIDIANA 1º PRÉMIO SOZINHOS A CIDADE RUI DUARTE SILVA _
VIDA QUOTIDIANA 2º PRÉMIO LUTA CONTRA A FOME RUI M. OLIVEIRA _
Na categoria Arte e Espectáculos, venceu Paulo Pimenta (Público) – também já vencedor do prémio principal na primeira edição do concurso – com o trabalho “Rasgado”, enquanto à reportagem “O maior espectáculo do mundo”, do freelancer Francisco Salgueiro, foi atribuído o segundo prémio.
ARTE E ESPECTÁCULOS 1º PRÉMIO RASGADO PAULO PIMENTA
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ARTE E ESPECTÁCULOS 2º PRÉMIO O MAIOR ESPECTÁCULO DO MUNDO FRANCISCO SALGUEIRO
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Igualmente dois prémios na Série de Retratos, o primeiro para Natália Szemis (freelancer), com o trabalho “Imaginarium” com crianças cegas ou com deficiências visuais, e o segundo para António Pedro Santos (Jornal i), pela reportagem “Todos diferentes todos iguais”.
SÉRIE DE RETRATOS 1º PRÉMIO IMAGINARIUM NATALIA SZEMIS
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SÉRIE DE RETRATOS 2º PRÉMIO TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAIS ANTÓNIO PEDRO SANTOS
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Dois premiados ainda nas reportagens sobre Ambiente: Eduardo Leal (freelancer) foi o vencedor com “Árvores de plástico”, cabendo o segundo a Douglas Rogerson, também freelancer, pelo trabalho “Animação suspensa” que realizou junto do Centro de Recuperação de Animais Selvagens, em Castelo Branco.
AMBIENTE 1º PRÉMIO ÁRVORES DE PLÁSTICO EDUARDO LEAL
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AMBIENTE 2º PRÉMIO ANIMAÇÃO SUSPENSA DOUGLAS ROGERSON
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Na categoria Desporto, Daniel Rodrigues (também freelancer) foi o vencedor com uma reportagem sobre a paixão do futebol no Brasil durante o Mundial, a que chamou “Fé, futebol e bola pr’á frente”, tendo o segundo prémio sido atribuído pelo júri a um trabalho com praticantes de Street Workout na cidade de Braga, do fotógrafo Gonçalo Delgado.
DESPORTO 1º PRÉMIO FÉ, FUTEBOL E BOLA PR'Á FRENTE DANIEL RODRIGUES
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DESPORTO
2º PRÉMIO
EVOLUÇÃO MULTIFACETADA DO SER HUMANO
GONÇALO DELGADO
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A par das reportagens premiadas, todos os anos é atribuída uma bolsa, tendo sido escolhida a proposta “A tradição ainda é o que era”, apresentada pelo fotojornalista António Pedro Santos, que assim arrecadou três dos prémios hoje anunciados.
BOLSA ESTAÇÃO IMAGEM 2015 VIANA DO CASTELO
A TRADIÇÃO AINDA É O QUE ERA
ANTÓNIO PEDRO SANTOS
No norte de Portugal, ouro é sinónimo de Minho. Há mesmo uma cidade que utiliza a
denominação de “capital do ouro”: Póvoa de Lanhoso. É aqui que muitos artesãos
trabalham delicados fios de ouro, de geração em geração. É chamada a arte da
filigrana. Com esses finos fios de ouro entrançados (também podem ser de prata e
até outros metais), os artesãos produzem peças como anéis, brincos, pulseiras,
colares, entre outros.
A filigrana portuguesa foi integrada no luxuoso património da joalharia em Portugal
para representar temas variados da história, cultura e tradição portuguesa, do mar,
natureza, religião ou o amor. São disso exemplo os corações de Viana do Castelo,
as arrecadas, os crucifixos, os brincos de fuso ou à rainha, as cruzes de Malta, os
colares de conta.
Além de constituir um adereço e marca de distinção social a filigrana portuguesa em
ouro assumia também um investimento e uma mais-valia para as famílias. Seja por
grupos sociais de condição elevada, seja por pessoas de menos posses, as peças
da filigrana portuguesa são usadas como adereços valiosos para festas especiais
como os casamentos, adereços do vestido de noiva. São também encontradas no
traje feminino dos ranchos folclóricos do Minho. É uma arte exclusivamente manual,
exigindo dos artesãos um trabalho muito paciente, imaginativo e de grande destreza.
A presença do ouro e os gostos das populações locais fizeram com que se
produzissem peças de ouro com características muito próximas. A abundância de
metais preciosos permitiu que aqui se desenvolvesse a ourivesaria, fazendo destas
terras uma das regiões privilegiadas de todo o Mundo Antigo. Preservando um forte
cunho artesanal e assumindo-se como uma atividade importante na economia da
região, a arte da filigrana representa todo um valioso património. As pessoas que
trabalham neste ofício fazem-no geralmente em pequenas oficinas, que se dedicam
à produção de pequenas quantidades de peças vocacionadas para modelos e
técnicas de grande tradição.
A ourivesaria tradicional portuguesa tem uma inspiração marcadamente religiosa, e
o coração de Viana não é excepção. Este coração que é utilizado como símbolo da
cidade de Viana do Castelo, surgiu em Portugal com a enraização do culto ao
Sagrado Coração de Jesus em finais do séc. XVIII. Símbolo que ficou mundialmente
conhecido em 2005 com uma obra da artista plástica Joana Vasconcelos (Coração
Independente Dourado), que ao recriar o ícone da cidade com talheres de plástico
vermelho, pretendeu homenagear a técnica da filigrana.